
PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E DROGAS RAUL SEIXAS
Magali Felipe Costa da Silva
Impasses no manejo da transferência na clínica da toxicomania
Orientadora: Cristiane Mazza
Rio de Janeiro, 2008
Monografia apresentada na conclusão do Estágio Integrado em Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro – Acadêmico Bolsista – realizado no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Raul Seixas.
Agradecimentos
Meus agradecimentos à equipe multidisciplinar do CAPS-ad Raul Seixas, que através da singularidade demonstrada no fazer clínico de cada profissional, proporcionou-me uma rica experiência a cerca da clínica da drogadicção, bem como me fez constatar a dedicação requerida pelo ofício de quem cuida.
À inestimável ajuda prestada pela Cristiane Mazza – supervisora e orientadora deste trabalho – por sua inquietação a cerca do manejo nesta clínica, pelo espaço aberto à exposição de meus impasses vivenciados no dia-a-dia, pelo compartilhamento de suas vivências como profissional, as quais suscitaram em mim um despertar para as questões aqui levantadas e pela firmeza e ternura evidenciadas em seu trabalho.
Aos estagiários e residentes com os quais pude vivenciar esta riquíssima experiência, de quem está fazendo os primeiros contatos com a clínica da toxicomania. Esta que em muitos momentos me afetou a tal ponto, de buscar através de meus pares – colegas estagiários -, a sensação de não ser a única a “tatear” o desconhecido.
Àqueles – refiro-me ao pacientes – a quem devo todo o respeito, pois muito embora nossas histórias de vida sejam tão distantes, ao mesmo tempo estão bem próximas, se situadas em um contexto social mais amplo que de outra forma, também reflete traços de uma certa “compulsividade”.
Ao meu marido José Ricardo que na medida do possível, ofereceu o seu apoio em todos os momentos necessários ao cumprimento deste trabalho e à minha família que soube compreender minhas ausências.
À professora Adriana Rosa, pelo incentivo, ensinamentos proporcionados e textos emprestados e a todos os profissionais que da mesma forma, contribuiram na orientação desta produção.
“Por mais tentado que possa se sentir o analista a se tornar o educador, o modelo e o ideal de seus pacientes, qualquer que seja o desejo que tenha de moldá-los à sua imagem, ele precisa lembrar-se de que esse não é o objetivo que procura atingir na análise e até de que fracassará em sua tarefa entregando-se a essa tendência. Assim agindo, ele apenas repetiria o erro dos pais cuja influência sufocou a independência da criança e substituiria a antiga sujeição por uma nova”.
- Freud (1940)
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre os impasses no manejo da transferência utilizando-se como referência os achados freudianos, onde se afirma que muito embora tal fenômeno represente a mola propulsora do tratamento, coloca-se também como o seu maior obstáculo, evidenciando um grande paradoxo. A partir da ênfase dada à articulação dos textos: “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise” e “Observações sobre o amor transferencial”, pretende dar visibilidade ao grande desafio enfrentado pelo analista quando está diante do paciente. Trata-se de não se sentir intimado a retribuir de forma imediata, a demandas tão emergenciais, sob o risco de estar deformando o material trazido pelo paciente toxicômano. Nesse sentido, a maior dificuldade é distinguir se a urgência é de fato deste último ou se é a subjetividade do analista que pode estar tomando à frente da escuta e interferindo nas intervenções. Agindo assim, incorre no mesmo erro do analisando, na medida em que seleciona o que está escutando em seu discurso. Desta forma, as questões aqui apresentadas pretendem situar dentro da realidade de um Caps Ad, os desafios de sustentar-se um trabalho pela via da transferência, sem necessariamente ser capturado pelas demandas que dela advém. Através da leitura dos textos supracitados e da experiência vivenciada, percebe-se que a questão não estar em responder à demanda, mas sim em fazer um trabalho sobre a mesma no intervalo de tempo entre a sua chegada e a resposta a ser dada.
Introdução
No decorrer deste trabalho, estarei dando visibilidade a experiências dentro do contexto de um Caps Ad¹, principalmente fazendo alusão às dificuldades ou “impasses” que enfrentei no decorrer do período em que estive em contato com a clínica da drogadicção. Antes de mais nada, gostaria de descrever este serviço não apenas como um local, em que o sujeito denominado toxicômano tenha um espaço onde possa se abster das drogas por algumas horas de seu dia, mas sobretudo, como um dispositivo de intervenção que pretenda escutar e sinalizar aspectos do seu funcionamento psíquico, que fora dali dificilmente seriam sinalizados. Desta forma, entende-se que o Caps Ad é um lugar propício para que o paciente possa repensar aspectos de sua vida, favorecendo a ocorrência de uma tensão psíquica neste ambiente de tratamento. Tal proposta de trabalho tem como característica ser extremamente antagônica a um estado de letargia buscado por muitos pacientes quando procuram a droga. Ocasião esta em que estes últimos procuram “amortecer” o mal-estar próprio da existência humana. Partindo deste pressuposto, penso que o Caps ad é um espaço onde o paciente deva ser escutado em suas diversas demandas, as quais geralmente trazem consigo um caráter emergencial, não significando com isso, que todas serão necessariamente atendidas. Por ser esta uma clínica diversificada, faz-se necessário circunscrever as atividades nas quais estive engajada, já que foram estas que suscitaram em mim grandes provocações, constituindo-se como ponto de partida para todos os impasses que aqui tentarei expor.
A primeira atividade diz respeito aos acolhimentos individuais realizados com pacientes que até então, nada sabem sobre esta proposta de tratamento e que apresentam várias expectativas em relação ao mesmo. Estas podem ser evidenciadas a partir de demandas por medicação, internação, laudos e até mesmo algo que produza um efeito de “desintoxicação” no organismo, como se isto fosse possível. Outra atividade em que pude contribuir de alguma forma foi o Grupo de Recepção, onde trabalhei junto a uma equipe composta por um residente e uma técnica do staff. Neste espaço, as demandas supracitadas são enunciadas na presença de outros pacientes e em alguns casos, na presença de seus familiares.
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¹ “Destina-se ao atendimento de crianças, adolescentes e adultos em sofrimento psíquico, devido ao uso de álcool e outras drogas, oferecendo tratamento diário e intensivo através de diversas modalidades de atendimento.” (Manual do Acadêmico Bolsista, p. 13)
Também coordenei juntamente com um residente a “Oficina de Vídeo”, onde o grande desafio é que a própria equipe possa utilizá-lo como um instrumento terapêutico, cuja proposta seja reinventar a clínica através da discussão sobre os filmes apresentados, apostando que este dispositivo faça emergir algo do funcionamento psíquico desta clientela, com vistas a que o mesmo possa ser trabalhado. Como todo espaço coletivo, a oficina de vídeo deve ser mediada por uma equipe que a coordena sob os diversos aspectos. Por último, farei referência à minha inserção no “espaço de convivência”, ressaltando sua importância para pacientes que além dos seus atendimentos – sejam eles individuais ou coletivos – precisam ser acompanhados de forma intensiva ou não. A intensividade diz respeito ao comparecimento mais freqüente ao Caps em função da gravidade do caso. Isto é avaliado pela equipe de acordo com a necessidade de cada paciente, podendo servir em muitos casos, como um meio de evitar a internação do mesmo. Uma das propostas deste espaço é promover a interrupção do uso compulsivo de drogas e oferecer um lugar que tenha como objetivo, a reinserção social do toxicômano. Nele, o estagiário é convidado a operar considerando que a transferência se apresenta de diversas formas, podendo se remeter a apenas um técnico, a vários membros da equipe ou mesmo à instituição. Como não acompanhei nenhum caso individualmente, abordarei de um outro lugar o fenômeno da transferência bem como os seus impasses. Digo isto por que não presenciei as interferências do efeito regulador oferecido pelo enquadre de um setting analítico sobre este fenômeno.
A partir da minha vivência nestes espaços supracitados, surge a minha questão: vejo que um dos grandes desafios é como não me sentir intimada a dar uma resposta imediata a demandas tão diversificadas. Geralmente é difícil distinguir se a urgência é de fato do paciente ou se é a minha subjetividade que pode estar tomando à frente da escuta e interferindo nas intervenções. Agindo desta forma, crio empecilhos no sentido de realizar um trabalho sobre a demanda já que muitas vezes, é difícil suportar o intervalo entre o pedido do paciente e a resposta a ser dada pelo técnico.
Como fio condutor desta articulação entre clínica e teoria, lançarei mão de alguns textos de Freud, tendo em vista sua grande contribuição em relação aos impasses que normalmente um analista se depara quando está diante do paciente. Desta forma, no transcorrer deste trabalho, estarei fazendo menção aos seguintes artigos: “Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise” (1912), “Observações sobre o amor transferencial” (1915), “Recordar, repetir e elaborar” (1914) e “A dinâmica da transferência” (1912). Entendo que a relevância destes textos refere-se ao fato de abordarem algumas dificuldades vivenciadas pelo analista na clínica, principalmente quando se trata de manejar a transferência de seus pacientes. Entretanto destes textos, darei maior ênfase aos dois primeiros, fazendo uma reflexão sobre os mesmos, no que diz respeito aos riscos que o analista corre quando põe sua subjetividade a frente de sua escuta, levando-o a deformar ou selecionar o material trazido pelo paciente, bem como quando não atende à exigência de manter-se abstinente no que se refere a retribuir o amor transferencial do mesmo. Portanto, estes dois textos são importantes para esta temática porque falam que o manejo reside em permitir que apenas a subjetividade do analisante compareça ao espaço de tratamento. Neste sentido, é pertinente a “metáfora do espelho” empregada por Freud em “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”: “O médico deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrad.” (FREUD, 1912, p.157)
Recomendações de Freud a cerca do manejo clínico:
Ao chegar neste serviço, deparei-me com os primeiros percalços, talvez ainda hoje presentes em minha jornada profissional. Trata-se de me autorizar a ocupar um lugar que além de implicar alguns impasses, também oferece alguns riscos, pois apresenta características que conferem um certo saber a quem o ocupa. Digo isto por que fui me dando conta de que algumas funções me eram atribuídas por estar nesta posição, mesmo encontrando-me na condição de estagiária. Falo de um lugar em que constatamos que determinados pacientes acreditam que somos as pessoas “especializadas” no quesito: “dependência química”, o que demonstra o seu anseio de cura em relação ao tratamento que é prestado neste Caps. Nesse sentido, esses pacientes pressupõem um “saber” que é idealizado e dirigido à equipe técnica na busca de um entendimento do que lhe ocorre, colocando-a num lugar de onipotência perante a problemática principal que é trazida: o uso de drogas.
Diante desta perspectiva em que há um investimento libidinal em relação à equipe, e mais precisamente ao técnico de referência, somos convocados pelo paciente em muitos momentos, a dar explicações técnicas acerca dos seus sintomas, como se isso pudesse aplacar a angústia decorrente de sua atual condição. Trata-se de situações em que o grande desafio é não se deixar tomar por sentimentos “contratransferenciais” de que realmente detemos um saber e portanto, podemos lhe dá as explicações necessárias. Por ser um lugar altamente sedutor, acredito ser imprescindível evocarmos o que foi afirmado neste mesmo texto citado acima: “A conduta correta para um analista reside em oscilar, de acordo com a necessidade, de uma atitude mental para outra, em evitar especulação ou meditação sobre os casos, enquanto eles estão em análise, e em somente submeter o material obtido a um processo sintético de pensamento após a análise ter sido concluída. A distinção entre as duas atitudes seria sem sentido se já possuíssemos todo o conhecimento (ou, pelo menos, o conhecimento essencial) sobre a psicologia do inconsciente e a estrutura das neuroses que podemos obter do trabalho psicanalítico. Atualmente, ainda nos achamos longe desse objetivo e não devemos cercear-nos a possibilidade de conferir o que já sabemos e ampliar mais nosso conhecimento”. (FREUD, 1912, p.153).
Fica claro neste trecho, que não devemos ter a pretensão de nos antecipar a enquadrar o paciente dentro de nossos conhecimentos teóricos, bem como a partir das nossas experiências pessoais, restringindo assim a nossa escuta. Agindo desta forma, estaremos conduzindo o caso a partir de nossos próprios interesses científicos, ao invés de caminharmos na direção do tratamento. Quando assumimos um lugar cujo interesse é de ordem científica, fica evidenciado que fomos capturados pela perigosa tendência em ‘predizer’ o futuro através do que estamos contemplando no presente. Tal conduta não nos permite “sermos tomados de surpresa”, pois tudo já está previamente traçado, ou seja, não se vislumbra outras possibilidades de vida para o paciente senão aquelas as quais encontramos na teoria.
Entretanto, este saber científico não é só uma ambição do analista, podendo partir também do próprio paciente, quando nos propõe um “debate intelectual” a cerca do seu sintoma. Desta forma, percebemos que em alguns casos, a procura pelo diagnóstico ou por respostas científicas torna-se tão excessiva quanto à ênfase que é dada em trazer para o espaço de tratamento, um discurso intelectualizado sobre o seu sintoma, dando ao mesmo uma fundamentação teórica. Neste sentido, o paciente traz a sua questão através de um discurso que geralmente é previamente selecionado, com vistas a se desviar dos conteúdos inconscientes que por ventura possam aparecer através de sua fala, caracterizando uma resistência ao tratamento. Tratando-se do mesmo texto anteriormente citado, Freud adverte sobre a importância em se obedecer pacientemente à regra psicanalítica que impõe a exclusão de toda a crítica ao inconsciente ou aos seus derivados: “Deve-se ser especialmente inflexível a respeito da obediência a essa regra com pacientes que praticam a arte de desviar-se para o debate intelectual durante o tratamento, que teorizam muito e com freqüência muito sabiamente sobre o seu estado e, dessa maneira, evitam fazer algo para superá-lo”. (FREUD, 1912, p.158).
Diante da resistência do paciente, que se dá através do desvio para um discurso embasado cientificamente, tal como vimos no parágrafo anterior, vale destacar que o analista também está sujeito à interferência deste mesmo fenômeno. Isto ocorre quando ele – tanto quanto o paciente – começa a selecionar o que está escutando, ao invés de utilizar tudo o que está sendo dito “para fins de interpretação”. O motivo pelo qual assim procede, deve-se ao fato de não ter resolvido em si próprio por meio de sua análise pessoal, suas repressões internas, o que o desqualifica para a realização de uma escuta através de seu inconsciente. Neste sentido, a resistência aparece como uma forma de seleção a respeito do que está sendo veiculado pelo paciente através da fala, indo na mesma direção proposta por este último quando explica cientificamente seus sintomas. Como já foi dito, faz-se necessário que o mesmo passe por um processo de “purificação psicanalítica”, pois isto lhe possibilita ficar ciente de seus complexos, bem como lidar com os mesmos, já que “as repressões não solucionadas”, constituem um “ponto cego” do analista.
Este auto-conhecimento é um grande auxílio ao seu trabalho, na medida em que evita as projeções sobre o paciente. Podemos conferir esta assertiva no mesmo texto citado acima, onde Freud trata das más repercussões causadas pelas repressões não solucionadas no analista: “Mas quem não se tiver dignado tomar a precaução de ser analisado não só será punido por ser incapaz de aprender um pouco mais em relação a seus pacientes, mas correrá também perigo mais sério, que pode tornar-se perigo também para os outros. Cairá facilmente na tentação de projetar para fora algumas das peculiaridades de sua própria personalidade, que indistintamente percebeu, no campo da ciência, como uma teoria de validade universal; levará o método psicanalítico ao descrédito e desencaminhará os inexperientes”. (FREUD, 1912, p.156)
Um aspecto importante neste texto, diz respeito à “ambição educativa”, onde Freud sinaliza os riscos corridos pelo analista quando coloca sua própria subjetividade como parâmetro na condução do tratamento. Sendo assim ele dá a seguinte orientação: “Não é, então nada mais que ambição natural que ele se esforce por transformar em especialmente excelente uma pessoa que ele lutou para livrar da neurose, e que determine altos propósitos para seus desejos. Mas novamente aqui o médico deve controlar-se e guiar-se pelas capacidades do paciente em vez de por seus próprios desejos”. (FREUD, 1912, p. 157). Entendo com isto, que o lugar do analista numa instituição, também é o de ser tolerante para com as “fraquezas” do paciente, procurando não cair no equívoco de traçar projetos de vida e colocar os seus próprios anseios pessoais como um alvo a seguir. Muito pelo contrário, deve permitir ao paciente um espaço onde este possa se pronunciar, atendendo aquilo que o tratamento dele requer: apresentar-se em sua singularidade através da fala. Desta forma, o analista deve ocupar um lugar em que possa diferenciar o que é necessário para o tratamento do paciente e o que representa a busca por sua própria satisfação pessoal, que em muitos momentos assume uma conotação um tanto narcísica. Posição esta que faz lembrar do texto de Hipócrates quando fala dos objetivos a serem alcançados por uma profissão. Segundo ele, o objetivo de qualquer tratamento “É servir ao paciente da melhor forma possível, e não se servir dos pacientes para prestígio ou outros desígnios pessoais do profissional de saúde”. Partindo deste aspecto, penso que é cabível aqui, expor alguns de meus impasses no que diz respeito ao “furor sanandi” que se refere ao desejo de curar o paciente, pelo qual o analista é tomado. Sendo assim, minhas indagações são: __Até que ponto estaríamos a serviço do paciente ou de nós mesmos? __Haveria a possibilidade de uma prática clínica puramente altruísta?
Tratando-se ainda da ambição educativa, onde o analista estabelece “altos propósitos para o paciente”, surpreendo-me em muitos momentos, quando constato que nas ‘pequenas coisas’, sejam elas em atitudes ou palavras, podemos ainda assim realizar um trabalho, pois as demandas se apresentam de diversas formas e em muitos casos, elas requerem de nós algo que, se comparado a tudo que temos acesso através do saber científico, causa-nos a impressão de ser muito pouco a oferecer em termos de tratamento e de cuidado. Esta sensação de que o que se pode dar ainda é insuficiente, leva-nos a uma certa condição angustiante, por que almejamos por fazer mais e subestimamos o que já fazemos por estes pacientes. Entendo que pensar desta forma, pode representar um grande equívoco, interferindo negativamente no trabalho que é realizado, tendo em vista que começamos a idealizar uma “mega intervenção” para que nossa prática em saúde mental seja validada. Quanto a este estado de espírito em relação ao tratamento do paciente, Freud nos adverte neste texto o seguinte aspecto: “Como médico, tem-se acima de tudo de ser tolerante com a fraqueza do paciente, e contentar-se em ter reconquistado certo grau de capacidade de trabalho e divertimento para uma pessoa mesmo de valor apenas moderado.” (FREUD, 1912, p. 158)
Neste mesmo trecho de sua obra, ele nos alertou para os malefícios da “ambição terapêutica”, afirmando que: “Nas condições atuais, o sentimento mais perigoso para um psicanalista é a ambição terapêutica de alcançar, mediante este método novo e muito discutido, algo que produza efeito convincente sobre outras pessoas. Isto não apenas o colocará num estado de espírito desfavorável para o trabalho, mas torna-lo-á impotente contra certas resistências do paciente”. (FREUD, 1912, p.153). Partindo deste pressuposto, podemos entender que a ânsia do analista em obter como resultado “algo que produza efeito convincente sobre outras pessoas”, tem seus aspectos positivos e negativos. Quanto a estes últimos, podemos afirmar que tal conduta não permite que o analista esteja qualificado para lidar com as resistências quando elas aparecerem, o que depende de um trabalho que rastreie a libido regredida a fim de trazê-la ao consciente. Em relação aos aspectos positivos deste novo método, fica claro que se referem à preocupação de Freud com a distância afetiva que deve haver entre analista e analisando, pois segundo ele, este anonimato em relação à sua vida pessoal, cria algumas vantagens para ambos: “Para o médico, uma proteção desejável para a sua própria vida emocional, e, para o paciente, o maior auxílio que lhe podemos hoje dar”. (FREUD, 1912, p.153)
A cerca desta preocupação de Freud quanto a uma aproximação afetiva entre analista e paciente, percebemos que a mesma pode ser justificada pelo contexto social em que vivia, pois especificamente em 1912, a contratransferência era percebida como um obstáculo à análise, ao invés de ser considerada como um instrumento útil ao trabalho do analista, no tocante à possibilidade de “compreender e manejar cada situação analítica em particular” (ZIMERMAN, 2004, p. 142). De 1912 a 1952, o conceito de contratransferência foi encarado pelos analistas da época, como algo que os desqualificava, devendo ser silenciado ou velado, já que tal reação era um indicador de que “deveriam retornar à análise”. Daí compreendermos os receios de Freud a cerca desta questão. Segundo Zimerman: “Assim, diferentemente do que aconteceu com o fenômeno transferencial, cujo reconhecimento trouxe muito alívio aos analistas (os riscos não sendo reais, o analista não precisa passar por aquele sofrimento que Breuer passou com Ana O.), a contratransferência continua provocando problemas de desconforto nos terapeutas” (ZIMERMAN, 2004, p. 142).
Esta assertiva de Zimerman, justifica de certa forma, a ênfase maior dada por Freud ao fenômeno transferencial, sendo este bastante desenvolvido em sua obra: “A dinâmica da transferência” (1912). Nela, a transferência tem a ver com as relações pregressas do paciente, onde o analista – muito embora não seja a pessoa original que fez parte de sua infância primitiva – sabe que nada mais faz do que se prestar a esse papel. No entanto, tal condição não deve ser confundida com a possibilidade de uma retribuição às necessidades do paciente na medida em que elas aparecem. Neste sentido, podemos afirmar que a transferência tem relação com os “impulsos libidinais” circunscritos em sua obra, onde ele descreve que apenas uma parte dos mesmos pôde se expandir na realidade, achando-se à disposição da personalidade consciente. Já uma outra parte desses impulsos encontra-se retida, de forma que não é acessível à consciência, podendo se expandir apenas na fantasia. Desta forma, se tais impulsos foram apenas parcialmente satisfeitos, fica mais fácil compreender que o lugar que ocupamos está pronto por antecipação por que há uma “catexia libidinal” que também se encontra antecipadamente pronta e que não foi totalmente satisfeita, podendo dirigir-se à figura do analista.
Neste caso, a mesma recorrerá a um dos chamados “clichês estereotípicos” para incluir o analista. Este mecanismo psíquico foi chamado por Freud como “fenômeno da transferência”, cujo caráter inevitável e automático leva o paciente a reviver afetos e a deslocá-los para a pessoa do analista como se estivessem surgindo naquele exato momento, quando na verdade o que ocorre é uma “compulsão à repetição” que tem relação com o fato de transferir o passado esquecido ao invés de recordá-lo e relatá-lo. Diante desta compulsão, Freud nos fornece meios de lidar com a mesma através de seu texto: “Recordar, Repetir e Elaborar”, onde ele afirma o seguinte: “Toda vida, o instrumento principal para reprimir a compulsão do paciente à repetição e transformá-la num motivo para recordar reside no manejo da transferência”. Tornamos a compulsão inócua, e na verdade útil, concedendo-lhe o direito de afirmar-se num campo definido (…) Contanto que o paciente apresente complacência bastante para respeitar as condições necessárias da análise, alcançamos normalmente sucesso em fornecer a todos os sintomas da moléstia um novo significado transferencial e em substituir sua neurose comum por uma neurose de transferência” (FREUD, 1914, p.201) Nesta última, o paciente encontra-se sob uma nova condição, em que sua doença torna-se artificial e portanto de natureza provisória, o que por sua vez facilita o trabalho do analista, tendo em vista que poderá ter acesso sem dificuldades ao conteúdo inconsciente, desde que a resistência tenha sido superada. A transferência aparece como repetição e portanto, sempre será inadequada e incompatível com a situação atual, já que diz respeito a uma outra pessoa que não o seu analista. Desta forma, estando sob o efeito da transferência, o paciente esquece completamente a realidade do seu tratamento, passando a persistir na retribuição de seus afetos.
Em sua obra, Freud deixou claro que este fenômeno também pode ocorrer fora do contexto de uma análise, não se constituindo uma propriedade exclusiva da mesma. Em seu texto: “A dinâmica da transferência”, ele afirma que: “Não é fato que a transferência surja com maior intensidade e ausência de coibição durante a psicanálise que fora dela”. (FREUD, 1912, p. 135). Podemos entender que este fenômeno tem sua origem na própria condição neurótica. Como já foi dito, para Freud toda pessoa no decorrer de sua história, adquiriu uma maneira peculiar de guiar-se em seu estado de enamoramento, que é fruto de uma motivação inata somada às interferências do meio ambiente durante os primeiros anos de vida. Esta maneira de se conduzir é reimpressa na medida em que encontre condições ambientais que lhe sejam favoráveis, tendo em vista que os ‘impulsos libidinais’ que determinam tal comportamento, não foram completamente satisfeitos. Freud acrescentou ainda que a transferência pode ser positiva ou negativa e os afetos apropriados para a resistência são justamente aqueles que se remontam aos sentimentos de amor ou aos de ódio. Esta assertiva pode ser confirmada quando ele diz o seguinte: “A transferência para o médico é apropriada para a resistência ao tratamento apenas na medida em que se tratar de transferência negativa ou de transferência positiva de impulsos eróticos reprimidos”. (FREUD, 1912, p. 140). Segundo ele, todas as relações que a nível consciente são amistosas, apresentam-se em sua gênese – em nível inconsciente – vinculadas ao erotismo. Desta forma, o manejo do analista reside exatamente em realizar um trabalho psíquico através dos possíveis fenômenos transferenciais consoante a cada caso. Muito embora saibamos que não é nada fácil controlá-los, reconhecemos que os mesmos facilitam grandemente o trabalho do analista, pois evidenciam através da compulsão à repetição, impulsos libidinais que se por um lado não são recordados, por outro, são vivenciados conosco como se fossem contemporâneos. Isto nos permite conhecê-los melhor, bem como interpretá-los. Para que isto ocorra, é necessário que o analista esteja atento à especificidade da transferência, com vistas a sustentar uma posição assimétrica, onde ele não fique capturado por ela.
Considerando ainda os fenômenos transferenciais, não obstante, gostaria de sinalizar uma outra recomendação formulada por ele, no que diz respeito à transferência erótica referida em seu texto: “Observações sobre o amor transferencial” (1915, p.214). Falo da “recomendação de abstinência”, onde ele afirma que o analista deve conduzir o tratamento na base da privação, ou seja, não deve ele atender às gratificações buscadas pelo paciente. Neste texto ele afirma o seguinte: “Em vez disso, fixarei como princípio fundamental que se deve permitir que a necessidade e anseio da paciente nela persistam, a fim de poderem servir de forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças, e que não devemos cuidar de apaziguar estas forças por meio de substitutos”. (FREUD, 1912, p. 214). No entanto, permitir que a demanda de amor apareça não significa eximir-se de realizar algum tipo de intervenção junto a este paciente. Sendo assim, é importante estarmos atentos a cerca do que ocorre na dinâmica psíquica dos pacientes para de alguma maneira, intervir ao invés de silenciar. É importante frisar que muitas vezes, o próprio silêncio “atento” do analista pode ser uma forma de intervir. Porém, faz-se necessário que ele vá mais além do que simplesmente reconhecer a forma como a transferência está se apresentando, ou seja, quais os afetos que estão sendo deslocados para si mesmo. Segundo Freud, ao estar diante de uma transferência erótica: “(…) ele tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial, repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de modo igualmente resoluto, recusar-lhe qualquer retribuição”. (FREUD, 1912, p. 216).
Vale destacar que tal recomendação pode se aplicar a todos os sentimentos contratransferenciais que possam emergir no analista a partir de sua relação com o paciente. Isto pode ser confirmado no seguinte trecho: “Admitamos que este princípio fundamental de o tratamento ser levado a cabo na abstinência estenda-se muito além do caso isolado que estamos aqui considerando, e que ele necessite ser completamente debatido, a fim de podermos definir os limites de sua possível aplicação” (FREUD, 1915, p.215). Entretanto, abster-se de tais sentimentos não significa deixar de ser afetado por eles, mas implica não permitir que os mesmos interfiram na escuta analítica. Neste sentido, estar abstinente é não colocar sua individualidade enquanto está tratando o paciente, pois esta atitude caracterizaria uma “técnica afetiva” que por sinal, não é eficaz na cura da neurose. Segundo Freud em seu texto: “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”: Os psicanalistas jovens e ávidos indubitavelmente ficarão tentados a colocar sua própria individualidade livremente no debate, a fim de levar o paciente com eles e de erguê-lo sobre as barreiras de sua própria personalidade limitada. Mas esta técnica não consegue nada no sentido de revelar o que é inconsciente ao paciente. Não hesito, portanto, em condenar este tipo de técnica como incorreto”. (Freud, 1912, p. 156). A partir deste trecho, depreende-se que o analista quando se propõe a lidar com o material trazido pelo paciente, seja qual for o seu conteúdo, deve se abster não apenas de uma transferência erótica, mas de todo o tipo de sentimento veiculado pelo paciente. A cerca da abstinência, Freud nos adverte que: “Em minha opinião, portanto, não devemos abandonar a neutralidade para com a paciente, que adquirimos por manter controlada a contratransferência. (Freud, 1915, p. 214).
Um fator de extrema relevância nesta clínica, é a forma como a demanda nos chega, pois apresenta-se com um caráter emergencial, variando entre pedidos de desintoxicação, medicação, comida, laudos e muitas vezes, o de alienação em relação à vida como um todo, momento este em que o dispositivo da internação é o mais procurado. Diante desta realidade, devemos estar atentos para não cairmos no engodo de que podemos dar ao paciente tudo o que deseja, achando que agindo assim, estaremos promovendo a cura de sua neurose, pois Freud em seu texto: “Observações sobre o amor transferencial”, nos alerta que: “Se ele houvesse sido guiado pelo cálculo de que esta concordância de sua parte lhe garantiria o domínio sobre a paciente e assim capacitá-lo-ia a influenciá-la a realizar as tarefas exigidas pelo tratamento e, dessa maneira, liberar-se permanentemente de sua neurose, então a experiência inevitavelmente mostrar-lhe-ia que seu cálculo estava errado. A paciente alcançaria o objetivo dela, mas ele nunca alcançaria o seu”. (Freud, 1915, p. 215)
Tendo dito isto, podemos dizer que a psicanálise é um instrumento de trabalho extremamente anacrônico ao contexto social vigente, pois seus princípios são completamente avessos aos costumes de uma sociedade, onde se elege o prazer imediato como prioritário, o que reflete traços de uma certa compulsividade. Sendo assim, é imprescindível afirmarmos que da mesma forma, o “imediatismo” da comunhão proporcionada pela droga não tem equivalente na experiência psicanalítica. Confirmamos esta afirmação nos escritos freudianos, quando ele se refere a sua paciente: “Ela tem de aprender com ele a superar o princípio do prazer, e abandonar uma satisfação que se acha à mão, mas que socialmente não é aceitável, em favor de outra mais distante, talvez inteiramente incerta, mas que é psicológica e socialmente irrepreensível”. (Freud, 1915, p. 220). Devemos perceber o que se apresenta na sutileza do pedido que nos é endereçado, já que estamos lidando com pacientes que nos convocam a um agir desenfreado – sintoma próprio do toxicômano – onde é proeminente a falta de intervalo de tempo para se pensar. Se não nos autorizarmos a reservar um período para refletir sobre o que está sendo pedido, podemos vir a atender prontamente à demanda do paciente e da mesma forma que ele, aniquilarmos o tempo necessário para a realização de um trabalho sobre a mesma.
Tratando-se ainda do caráter emergencial com que as demandas comparecem nesta clínica, podemos afirmar sob a perspectiva psicanalítica, que este sintoma assim como outro qualquer, está subordinado a um constante deslocamento de energia psíquica, que hoje é manifestado de um certo modo e amanhã comparece de forma mascarada, dando a impressão de que o sintoma anterior foi extinto e portanto, houve a cura. Entretanto, isto não corresponde à verdade a cerca dos processos anímicos. Sendo assim, considerando esta vertente teórica, entendo que os sintomas não são uma via confiável para se pensar a cura do paciente. Olhando desta forma para a toxicomania – que muitos destes pacientes colocam para nós como um problema a se desvencilhar – percebo que em muitos casos tal deslocamento é notório. Refiro-me àqueles em que a ansiedade de alguma forma, sempre existiu ou passou a existir em função de alguma circunstância que para o paciente foi impossível aceitar e por sua vez, resolvê-la internamente. Diante disso, percebemos que esta ansiedade pode assumir diversas formas e talvez a pior delas, é quando o paciente a desloca para o uso das drogas, pois neste caso, a busca por satisfação passa a ser um propósito a seguir, onde nada mais que a vida possa oferecer, tem qualquer valor. Em muitos casos acolhidos nesta instituição, percebemos que antes de o paciente ter qualquer vinculação com a droga, ele tinha uma compulsividade dirigida a outro objeto, o que nos faz crer que em sua trajetória de vida, há uma busca constante por uma “nova onda”. Entretanto quando esta é encontrada, automaticamente a anterior perde todo o seu efeito, evidenciando pela via do excesso que a vida só tem sentido quando movida à base de um êxtase após o outro. Ao receber pacientes que apresentam características como essas, enfrentamos o grande desafio de não entrar nesta “onda”, em que o que se tem hoje, nunca é suficiente.
Esta condição me faz lembrar de uma demanda bem presente quando entrei no Caps. Talvez por saberem que eu era uma nova estagiária, via-me cercada por pacientes cuja queixa era de que este serviço já havia sido melhor no passado. Falava-se de propostas de um trabalho coletivo que atualmente eram piores do que as que foram oferecidas há algum tempo atrás. Posteriormente, pude perceber que esta queixa direcionada a mim, talvez tivesse o propósito de expressar algo que eu pudesse dar conta, justamente por não conhecer a dinâmica de funcionamento do Caps. Sendo assim, esta demanda foi levada para nossa supervisão, tendo em vista que algumas estagiárias percebiam a falta de continuidade por parte dos pacientes, em suas oficinas. Daí surgia o que era uma grande questão para nós: __Como manejar esta inconstância dos pacientes em relação às oficinas? A respeito disso, é importante pensar na questão da temporalidade não só dentro do Caps como também na vida desses pacientes, pois esta é o cerne da sua relação compulsiva com a droga e muitas vezes, com tudo ao seu redor. Faz-se um uso abusivo das coisas até que elas se esgotem e não façam mais sentido naquele momento. Assim pode ser pensado o uso que estes pacientes fazem das oficinas, o que gera logo em seguida, uma sensação de esvaziamento por parte deles, levando-os a argumentar que “antigamente era melhor”. Penso que diante desta queixa, devemos atentar para não sermos capturados pela sutileza do pedido, mas tentar escutar aquilo que não está enunciado em palavras, pois enquanto ficamos às voltas com a criação de uma nova proposta de oficina, eles ganham tempo para não estar implicados em nenhuma delas.
Sendo assim, atender a um pedido como este em alguns casos, pode ser extremamente maléfico, já que reforça um comportamento que está sempre a procura de uma “nova onda”. Além disso, pode representar nossa própria ansiedade por algo novo que dê conta de trazer um efeito imediato no sentido da cura, já que muitas vezes o próprio analista não suporta este lugar em que os resultados almejados não acontecem dentro de um tempo previamente estipulado. Neste caso, ele é tentado a não mais investir e apostar nos instrumentos com os quais iniciou esta grande empreitada, de se criar uma outra saída para aquele cuja vida tornou-se insuportável. Esta dificuldade em relação ao tempo, me faz lembrar da metáfora utilizada por Freud em sua obra: “Observações sobre o amor transferencial”, onde ele diz o que o analista não deve fazer perante a Transferência erótica: “Ele não deve encenar a situação de uma corrida de cães em que o prêmio deveria ser uma guirlanda de salsichas, mas que algum humorista estragou ao atirar uma salsicha na pista. O resultado foi, naturalmente, que os cães atiraram-se sobre ela e esqueceram tudo sobre a corrida e sobre a guirlanda que os atraía à vitória muito distante”. ( Freud, 1915, p.219).
Portanto, Faz-se necessário que o analista possa primeiramente trabalhar sua dificuldade em sustentar investimentos a longo prazo, para só depois tratar da inconstância dos pacientes durante o tratamento. Como já foi dito, tal resultado é obtido a partir de sua análise pessoal. Agindo desta forma, corre menor risco de projetar sobre os mesmos sua própria ansiedade em obter um resultado convincente de forma imediata, podendo então conduzir o trabalho na direção da desaceleração e da destituição do imediatismo. Para driblar estes obstáculos, Freud recomendou em seu texto: “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”, que o analista “Tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe diz. (…) Toda repressão não solucionada nele constitui o que foi apropriadamente descrito por Stekel como um “ponto cego” em sua percepção analítica”. (FREUD, 1912, p.)
Os impasses nas situações clínicas:
Ao estar diante de uma clientela que em seu processo transferencial, convoca-nos a assumir diversos lugares, precisamos estar atentos para como nos posicionamos ou respondemos a estas demandas. Considerando nossa posição diante do paciente, gostaria de ressaltar a importância do que Freud nos recomendou em sua obra: “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”, onde ele se utiliza da “metáfora do espelho” para afirmar o seguinte: “O médico deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrado”. (FREUD, 1912, p.157). Diante disto, tenho percebido o quanto é arriscado sustentar um lugar sem que ao longo do caminho, também não venhamos cometer nossas “recaídas”. Neste sentido, refiro-me aos impasses vivenciados diante de algumas situações ocorridas ao longo de minha inserção em certas atividades realizadas no Caps ad. Desta forma, tentarei expor neste capítulo, de que maneira fui afetada ou melhor, que sentimentos contratransferenciais emergiram a partir do meu contato com esta clínica, mesmo sabendo que segundo Freud, os relatos de histórias clínicas “São, via de regra, fatigantes para o leitor e ainda não conseguem substituir sua presença concreta em uma análise”. (FREUD, 1912, p.152).
Inicialmente gostaria de apresentar o caso de certa paciente que há cinco meses, iniciou seus atendimentos no Caps e recentemente, começou a freqüentar assiduamente o espaço de convivência. Lembro-me que nas vésperas de seu aniversário, ela publicou a todos da equipe que gostaria de receber muito mais que as congratulações que normalmente são dadas a alguém quando este aniversaria. Ao ouvir tal demanda, automaticamente “escutei” que ela estaria esperando ganhar um presente. Ao chegar tal ocasião, procrastinei o quanto pude o momento em que estaria lhe parabenizando, tendo em vista que diante do que havia “escutado” anteriormente, certamente não atenderia às suas expectativas, pois lhe dizer “feliz aniversário” seria muito pouco. Ao mesmo tempo, no contexto em que me coloco como uma de suas referências no Caps, tinha consciência de que não caberia atender à suposta “demanda de lhe presentear”, sob o risco de estar fazendo um mal uso da função a que me proponho. Daí o por quê em adiar um simples cumprimento de feliz aniversário. Ao me esquecer por algumas horas, deste impasse pessoal vivido nesta ocasião, fui surpreendida no mesmo dia por esta paciente, que me abordou na sala de técnicos, querendo saber o que eu tinha a lhe dizer. Finalmente ao lhe parabenizar, fui presenteada com um objeto que tinha em sua embalagem, características de um presente de aniversário, visto que apresentava um selo com a seguinte mensagem: “parabéns”, o que achei um tanto curioso. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo incomodada com sua atitude, pois tive a certeza naquele momento, de que aquele ato denunciava uma transferência amorosa. Condição esta com a qual tive dificuldades de lidar naquele instante, visto que sua expectativa por algo a mais – anunciada no dia anterior – já havia suscitado em mim sentimentos contratransferenciais nada fáceis de lidar, pois trata-se de negar à paciente qualquer retribuição quanto ao seus ternos sentimentos, oriundos de seu estado transferencial.
Antes de dar prosseguimento ao relato deste caso, penso que seja importante destacar que a prática clínica dentro de um serviço público, lança grandes desafios ao analista, tendo em vista que ele é convocado a operar – dentro de uma perspectiva multidisciplinar – na chamada clínica ampliada, o que favorece à “pulverização da transferência”, já que o paciente quando chega à instituição, passa primeiramente pela recepção onde encontrará diferentes profissionais que a partir da escuta, irão lhe dá um encaminhamento. Sabemos que o trabalho analítico só pode ser realizado caso exista um endereçamento por parte do usuário. Desta forma, muito embora este paciente seja acompanhado por um certo profissional, pode ser que algo da transferência já esteja endereçado a outro técnico ou até mesmo à Instituição como um todo. Considerando esta realidade própria de uma Instituição, podemos afirmar que esta paciente citada anteriormente, vinha manifestando uma transferência bastante difundida por toda a equipe, sendo inclusive o que nos chamava bastante a atenção, pois era notório sua tentativa de se nivelar ao mesmo lugar ocupado por esta última. Isso aparecia através da intimidade que buscava construir com cada profissional, como se não houvesse qualquer assimetria nesta relação. Assumindo este lugar, ela se esquiva de se deparar com suas próprias questões psíquicas, ocupando-se das dificuldades de outros pacientes, sendo inclusive procurada por alguns que alegam precisar de conversar um pouco com ela por que estão sentindo algum desconforto emocional. Lembro-me de que no dia em que recebi o presente, não consegui me dar conta do que havia ocorrido. Entretanto, no dia seguinte durante o momento da supervisão, ao relatar o fato pude perceber a posteriori, os equívocos cometidos. O primeiro deles diz respeito a me antecipar em dá um significado ou sentido pessoal à demanda da paciente no dia em que anunciou sua expectativa de ganhar algo a mais. Algo este que foi interpretado por mim como uma expectativa de ganhar um presente sem que isto fosse evidenciado em palavras. Neste caso a atitude mais adequada seria ocupar um lugar vazio de significação; O segundo foi publicar esta interpretação do que estaria esperando ganhar como se a mesma fosse verdadeira; O terceiro equívoco foi não questionar com a própria paciente o que ela mesma havia dito, provocando nela um trabalho psíquico em que refletisse sobre o porquê desta demanda dirigida a mim; O quarto foi achar que poderia dar conta do seu pedido evidenciado pelo fenômeno transferencial. O último foi adiar os cumprimentos que poderiam ter sido feitos diante de todos os outros pacientes. Ao adiá-los, ficou evidenciado que separei um momento à parte só para lhe dizer algo em particular, bem como a coloquei em posição de destaque em relação aos demais. Desta forma, pude permitir que esta cliente atuasse, mostrando isso a partir do momento em que me aguardou mesmo após o final do expediente.
Um outro caso que gostaria de compartilhar reflete o vínculo entre um paciente e sua psicóloga, que parece ter se sustentado exclusivamente sobre as bases de um amor transferencial. Digo isto por que além de ter tido acesso ao caso deste paciente através da reunião de equipe, pude também observar durante minha inserção no Caps, que tal paciente em alguns momentos, deixava escapar uma certa condição bastante semelhante dirigida a mim na oficina de vídeo. Na relação construída com esta profissional, ficou claro que ela passou a gerenciar sua vida, assumindo um lugar bastante semelhante ao do “pedagogo”, posição esta que muito embora seja louvável, segundo Freud: “Estão longe de se aconselháveis em todos os casos” (FREUD, 1912, p.158). Estamos falando de um paciente que após alguns meses do término de seu tratamento com esta profissional – por motivo de sua transferência para um outro local de trabalho – traz em seu discurso uma declaração de que sua façanha em ter se mantido a uma certa distância da droga por alguns anos, teve origem em sua relação com a mesma, confessando que era apaixonado por ela. Desta forma, assim que seu tratamento precisou ser interrompido, ele começou a apresentar dificuldades em se manter abstinente, transferindo para uma outra psicóloga com quem mantém certo vínculo, a mesma relação anteriormente construída. Agora ele novamente projeta para esta última, sinais de uma transferência afetuosa, que se não for bem manejada, poderá levar o paciente a perder toda a compreensão do tratamento, comprometendo a continuação do mesmo.
Segundo Freud, tal atitude emocional por parte do paciente em relação à antiga terapeuta – sob a forma de uma “transferência positiva de impulsos eróticos reprimidos” – evidencia a revivência de sentimentos amorosos que embora pertençam a um passado remoto, são atualizados através da repetição dos mesmos com a sua psicóloga. Estando sob o efeito desta transferência, o paciente não se dá conta de que a realidade atual do seu tratamento nada tem a ver com suas relações pregressas, levando-o a apresentar-se com demandas que revelam um alto grau de regressão em sua conduta. Percebemos no decorrer do seu discurso, a presença permanente de uma transferência idealizadora excessiva, em que o paciente apresenta sérias dificuldades em detectar as possíveis falhas de sua psicóloga, desprovido de qualquer capacidade no que diz respeito ao juízo crítico, bem como de discriminação, o que dificulta o seu crescimento pessoal. Portando-se desta forma, ele não consegue adquirir a sua autonomia, estando sempre em busca de relações onde possa reproduzir um vínculo de dependência, submissão e servidão amorosa. Desta forma, seu pedido direcionado a esta última psicóloga, é que a mesma lhe dê bronca, chame-lhe a atenção ao confessar suas “recaídas”, enfim, que controle suas idas e vindas ao Caps, assim como foi em seu tratamento anterior, alegando que só assim consegue se manter afastado da droga. Trata-se de uma relação que se situa em um extremo um tanto exagerado, onde em nome do amor, o paciente aceita tudo o que provém de uma psicóloga por ele idealizada, construindo uma relação que tem por base, um amor do tipo tantalizante, ou seja, que jamais poderá ser retribuído. Em situações como esta, percebemos que o analista corre o sério risco de estabelecer projetos de vida para o paciente, como se este não tivesse qualquer autonomia para fazê-lo. É nesse aspecto que achei importante dar visibilidade a este caso, pois o mesmo suscitou em mim uma reflexão a cerca da dificuldade de se manejar o amor transferencial de um paciente que nos faz um pedido como este. __Como proceder neste caso quando o que está em jogo também é se abster de nossa posição narcísica? A posição que a primeira psicóloga assumiu no tratamento do paciente em questão, nos remete ao que Freud afirma em seu texto Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise: “Nem todo neurótico possui grande talento para sublimação; pode-se presumir que muitos deles de modo algum teriam caído enfermos se possuíssem a arte de sublimar seus instintos. Se o pressionarmos indevidamente no sentido da sublimação e lhes cercearmos as satisfações instintuais mais acessíveis e convenientes, geralmente tornar-lhe-emos a vida ainda mais árdua do que a sentem ser, de qualquer modo”.formatação da citação
Durante minha estada nesta clínica, chamou-me a atenção o caso de um toxicômano que foi acolhido por mim e que no decorrer de seu discurso, enunciou que já havia iniciado um tratamento psicológico ambulatorialmente, porém num certo momento deste processo, resolveu interrompê-lo. Logo em seguida a esta fala, ele confessa que gostaria de retomar este tratamento, mas sentia vergonha de procurar sua terapeuta, alegando que na ocasião, ela havia insistido para que ele não o abandonasse. Minha posição inicial foi de buscar alguém na equipe, que estivesse disponível para acompanhar o caso juntamente comigo, pois estava bastante interessada no conhecimento científico que poderia extrair do mesmo. No entanto mais adiante, pude perceber que havia outra possibilidade de trabalho a ser realizado com este paciente. Talvez fosse muito mais importante trabalhar com ele o seu retorno a um tratamento, que já havia tido um percurso, bem como gerado um certo vínculo e até mesmo produzido alguns efeitos positivos em sua vida, tais como ele mesmo relatou. O que pretendo com o resgate deste fato, é justamente ilustrar a partir de minha própria experiência, como corremos o risco de em certos momentos de nossa prática, estarmos fazendo um mal uso do lugar que ocupamos. Muitas vezes, sem nos darmos conta, somos capturados por nossos próprios interesses pessoais. Neste caso, o interesse era o simples fato de acompanhar um caso bastante enriquecedor em termos de experiência profissional. Tal posicionamento acaba impedindo um outro fazer que nesta ocasião, poderia ser o de agenciar o encaminhamento deste paciente ao ambulatório, onde já havia sido iniciado um certo trabalho terapêutico.
A este respeito, Freud no mesmo texto citado acima, sugere o seguinte: “Não é bom trabalhar cientificamente num caso enquanto o tratamento ainda está continuando – reunir sua estrutura, tentar predizer seu progresso futuro e obter de tempos em tempos, um quadro do estado atual das coisas, como o interesse científico exigiria”. (FREUD, 1912, p.152) Na condição de estagiária posso afirmar que os impasses entre tratar e pesquisar estão sempre na eminência de acontecer, já que além de visar à cura do paciente, também pertenço à classe daqueles que buscam agregar conhecimentos à sua carreira profissional. Entretanto, entendo que um dos desafios a serem enfrentados, é não permitir que este outro “ganho” possa interferir em nossa proposta de realizar um trabalho que seja realmente terapêutico e principalmente ético.
Dentre tantos casos com os quais tive algum tipo de contato, durante minha inserção numa Instituição de álcool e drogas, chama-me a atenção observar a forma como a compulsão por estas substâncias se inscreve na vida destes pacientes. Trata-se de uma maneira de consumir a droga, marcada pela via do excesso. Diante desta realidade, lembro-me de algumas “falas soltas” veiculadas por determinados pacientes, as quais pude escutar no espaço de convivência, tendo em vista não ter acompanhado nenhum caso em atendimento individual. Antes de explicitá-las, cabe aqui enfatizar que a relação que trataremos mais adiante, se evidencia pela falta de controle dos impulsos, o que leva esses indivíduos a buscar experiências de prazer até a sua exaustão. Isto me faz lembrar de que na ocasião em que coordenava um grupo de recepção, pude ouvir de um certo paciente a seguinte frase: “Não é possível guardar um pouco do pó para usar amanhã, pois tenho de consumi-lo até acabar”. Percebemos através desta fala, que o usuário de drogas procura viver intensamente a experiência prazerosa que esta substância pode lhe proporcionar. Nesta relação, não existe o compartilhar. Lembro-me de um paciente que disse que o crack em particular, é uma droga extremamente egoísta, pois é impossível pensar na necessidade do outro a ponto de lhe ceder qualquer pedaço da pedra.
Este paciente não vê na vida outra forma de obter prazer, manipulando tudo ao seu redor para conseguir a mesma. Quando esta já não lhe proporciona a experiência de prazer experimentada inicialmente, ele busca uma outra substância que possa lhe atender nesse sentido. Até então, ele acreditava que tinha um controle sobre o seu uso, mas quando percebe que não possui este controle, surpreende-se com a condição em que se encontra seu próprio corpo, que agora só responde sob o efeito da droga. Partindo desse aspecto, podemos explicitar a fala de um paciente que nos procurou dizendo o seguinte: “Eu não uso a droga, mas ela é quem me usa”; “O meu corpo me diz: só faço tal coisa se você me der a substância”. Percebemos que para esta clientela, uma das maiores dificuldades está em lidar com o fator tempo, pois tudo o que não fazem é justamente estabelecer algum tipo de intervalo ou de pausa naquilo que se propõem a fazer. Esse excesso me remete a um paciente, quando nos relatou que não consegue praticar o ato de escovar os dentes por menos de dez vezes ao dia. Um outro exemplo é o caso de um paciente que quando se pronunciou sobre sua compulsividade pela droga, admitiu que até quando come, é compulsivo dizendo: “Vou comendo, comendo, comendo até ficar entupido”. Toda esta compulsão muitas vezes pode ser observada logo que estes pacientes chegam pela primeira vez ao Caps, demandando respostas rápidas sobre seus problemas, o que denuncia algo da relação construída com a droga.
Em relação ao assunto que tratamos no parágrafo acima, podemos estabelecer um contraponto com o teor do discurso que estes pacientes elegem para nos dizer. Nessas ocasiões, percebo que a fala escolhida por eles e dirigida a nós, geralmente passa pela questão do estar ou não abstinente, o que denota uma percepção bastante reducionista acerca de si mesmos. Neste sentido, tais pacientes parecem apresentar uma importante dificuldade no que diz respeito às possibilidades de estar na vida, restringindo-se a “estar abstinente” ou à eminente “recaída”. Através de uma linguagem metafórica, eles expressam algo de ordem subjetiva, porém bastante visível em sua aparência. Refiro-me aos termos: “estar sujo” ou “ estar limpo”, usualmente pronunciado por eles durante nossos encontros. Diante deste discurso, penso que seja importante destacar a contribuição de Passos e Benevides (2001), no que se refere a uma das possibilidades de intervenção clínica do analista: “o sentido da clínica não se reduz a um movimento de inclinação sobre o leito do doente […], de um acolhimento de quem demanda tratamento […], mas que se configura positivamente enquanto ato […] como a produção de um desvio”. Entendo com isso, que nossas ações em saúde mental podem ir mais além do que simplesmente debruçar-se sobre a dificuldade do paciente. É possível deslocar seu discurso de um enfoque cristalizado cujo conteúdo traz consigo uma percepção rígida, onde tudo que ele sabe sobre si mesmo é que “ porta” uma identidade de alcoolista ou de um drogadicto.
Considerações Finais
Ao me propor discorrer a cerca do fazer clínico no Caps-Ad Raul Seixas, pude perceber o quanto é importante enfatizar que a nossa proposta reside exatamente em realizar um trabalho sobre a demanda do paciente. A princípio, acreditei que minha dificuldade estava em não me abster de atender ao pedido de urgência de um toxicômano, porém na medida em que comecei a esboçar este trabalho, pude me dar conta de que em muitos momentos, faz-se necessário que o mesmo seja atendido, com a diferença de que se faça previamente, um trabalho que permita ao demandante, pensar sobre o seu pedido. Estes podem se apresentar através de laudos médicos, pedidos de internação, medicação (…) Felizmente durante a construção das idéias aqui tecidas, pude perceber a partir da contribuição dada por minha orientadora, que o grande desafio é me privar de minha própria condição subjetiva, pois vejo diante de mim, a eminente tendência a tomar a demanda como algo avassalador que deva ser atendido. Agindo assim, incorremos num grande equívoco, pois deixamos de realizar um trabalho com o paciente e ao mesmo tempo, reproduzimos sua própria dificuldade que é não se permitir a dispor de um tempo para pensar.
Referências bibliográficas
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FREUD, S. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1968. V. 12. (Edição Standard Brasileira);
FREUD, S. Recordar, Repetir e Elaborar. In: FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago 1968. V. 12. (Edição Standard Brasileira);
PASSOS, Eduardo e BENEVIDES, Regina. Clínica e biopolítica na experiência contemporânea. Revista de Psicologia Clínica PUC-RIO, 2001. Vol. 13.n.1.p.89-100.